quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Poesia assimétrica

Pelo bem ou pelo mal, o pico da inspiração está em seu quadrante positivo!!!!

Poesia Assimétrica - Juliana Andreotti de Barros (Julho de 2012)

Nem todo mundo tem a oportunidade de viver um grande amor.
Eu já tive. Pela sorte ou pelo azar.
Eu já vivi um grande amor, daqueles que fazem você perder todos os fios de cabelo, secar todas as lágrimas dos olhos, comer todos os chocolates da sua casa e assistir todos os filmes água com açúcar que passam na Tevê.
Eu já vivi um grande amor que me levou a loucura da sanidade. Que me fez perder peso. Que me fez ganhar o céu. Que me levou até a lua sem ao menos ter tirado meus pés do chão.
Eu já vivi um grande amor, cujo drama poderia ser roteiro de novela mexicana.
Eu já vivi um grande amor com direito a dias ensolarados com chuvas torrenciais. Com direito a mais altos que baixos. Com direito a mais beijos que lágrimas. Com direito a mais açúcar que limão.
Eu já vivi um grande amor, daqueles que causam inveja nos casais alheios. Daqueles que todos comentam na fila do supermercado. Daqueles que todos espiam com olhos virados.
Eu já vivi um grande amor, do tipo que eu desejaria pra todo mundo e pra ninguém. Do tipo que eu recomendaria pra um amigo e pra um inimigo.
Eu já vivi um grande amor. Pela sorte ou pelo azar. Pela sorte de ser amada e pelo azar de amar demais. Pela sorte de ser idolatrada e pelo azar de idolatrar demais. Pela sorte de ser querida e pelo azar de querer demais.
Eu já vivi um grande amor. Pela magia ou pela dor. Pelos dias que se tornaram lindos e por outros que ainda pretendo não lembrar. Pela magia do primeiro beijo e pela dor do primeiro adeus.
Eu já vivi um grande amor. E não sei se Deus permitirá que eu viva outro assim jamais. Um grande amor não é ordinário, não acontece com qualquer pessoa, nem tem origem em qualquer lugar.
Eu já vivi um grande amor. E se pudesse faria tudo de novo - um grande amor pode até te deixar louco - mas eu faria tudo de novo e sem pensar.
Eu já vivi um grande amor. Quando envelhecer contarei em segredo pra minha netinha o quanto vale entregar seu coração sem medo de se machucar.
Eu já vivi um grande amor. E se pudesse faria tudo de novo. Um grande amor é mais escasso que ouro. E mesmo quando machuca, se é amor correspondido - é o sentimento mais bonito - e vale a pena o coração sangrar.
Eu já vivi meu grande amor.


A autora.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A moça do milho

Créditos do "Milho Cowboy" para  http://thumbs.dreamstime.com/thumblarge_283/1214454183LJ3Csa.jpg 


Hoje a tarde eu estava no ponto de ônibus esperando meu fretado para voltar pro doce lar quando uma cena ligeiramente tosca prendeu cem por cento da minha atenção.

Era uma moça pouco afeiçoada devorando uma espiga de milho. A ação trivial tinha um toque de ridículo que trouxe harmonia para o quadro geral. O fato do milho estar sendo ingerido enquanto a moça do milho esbanjava sedução na piada que contava foi apenas um agravante para prender meu foco.

O poeta aprecia a beleza do feio. O poeta encontra beleza em meio ao tosco. E ali, parada observando a moça do milho, comecei a pensar na minha vida e no sentido de todas as vidas. A moça do milho inspirou meu canto, deu razão a minha poesia! Então minha atenção se voltou para cada detalhezinho específico esquisito da moça do milho.

A moça do milho tem cabelos longos, muito escuros, com um brilho particular.
A moça do milho tem pestanas muito grossas, pareciam querer pular.
A moça do milho usa calça cor-de-rosa, jaqueta cor-de-rosa, blusinha cor-de-rosa, par de tênis cor-de-rosa, meias cor-de-rosa, brinco cor-de-rosa. 
A moça do milho usa esmalte cor-de-rosa. E a moça do milho usa um cachecol verde-limão no pescoço.
A moça do milho tem bigode (dizem por ai que, com essa, nem o diabo pode!)
A moça do milho é um clichê social. 
A moça do milho tem um um sorriso peculiar com a falta de alguns dentes.
A moça do milho usa fitinhas do Senhor do Bonfim.
A moça do milho tem uma amiga que parece uma espiga de milho.
A amiga da moça do milho tem cabelos curtos, poucos dentes e um gorro da cor do milho. E um sweater da cor do milho. E um sapato croc da cor do milho.
Mas a amiga da moça do milho NÃO É a moça do milho.
E a amiga da moça do milho não deu razão a minha poesia.
A moça do milho tem uma amiga que parece uma espiga de milho. E a amiga da moça do milho tem um amigo - que OHH - é apaixonado pela moça do milho.
A moça do milho é risonha, e exibe os poucos dentes que restam em sua boca sem ligar para o que os outros pensam.
A moça do milho tem uma espiga de milho e divide com sua amiga, e com o amigo de sua amiga.
A moça do milho fuma enquanto devora o milho.
A moça do milho ri enquanto devora o milho.
A moça do milho espera o ônibus enquanto devora o milho.
E não importa que seus poucos dentes ficarão sujos de milho. 
E não importa que sua mão ficará escorregadia de margarina barata.
A moça do milho não se importa com o que a sociedade prega contra ela.
A moça do milho devora seu milho e vai pra casa no final de um dia de trabalho.
E a moça do milho é feliz numa terça-feira insonsa. 
A moça do milho é um espelho de dois lados. 
A moça do milho não precisa de muito pra ser feliz: ela precisa do seu milho, da sua amiga espiga de milho e do amigo de sua amiga que lhe lasca beijos cinematográficos nas bochechas rosadas por blush em bastão.

E essa é a história da moça do milho, que fiquei observando ininterruptamente pelos 10 minutos que seguiram enquanto meu fretado não chegava.

E com a moça do milho me dei conta do quão pouco é preciso para atingir a felicidade.
Com a moça do milho aprendi que a beleza está no simples que a vida oferece.
A moça do milho me ensinou que é bonito estar completamente fora dos padrões estabelecidos pela sociedade.

Talvez eu nunca volte a ver a moça do milho. Talvez a moça do milho nem tenha notado a minha presença naquele ponto de ônibus, tão pouco o quanto eu admirei. Talvez a moça do milho tenha sido um sinal de como ando conduzindo minha vida segundo as regras da sociedade. Talvez a moça do milho seja o espelho que eu precisava ver todos os dias de manhã enquanto lavo meu rosto com água limpa e tratada, enquanto escovo meus dentes com pasta dental com pedigree

E eu queria que um dia a moça do milho pudesse ler esse texto e a poesia que foi inspirada por ele (que será publicada num futuro próximo), mas eu tenho a leve impressão de que a moça do milho não vai saber ler. Só vai saber comer. Só vai saber dar risada da vida boa com sua amiga espiga de milho!

End of story

Alguém a fim de pipoca ai?????