segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bolinho de chuva!




Um textículo para uma chuvícula! (a autora).

Bolinho de chuva! (por Juliana Andreotti de Barros - setembro de 2013)

Dias de chuva me remetem à infância. 

Que delícia era acordar sob o barulho das gotas de chuva batendo na calha, roçando na grama, escorregando devagarzinho pelo verde-capim do jardim no fundo de casa. E o cheirinho da terra molhada, do barro recém-alimentado, da lama convidativa para servir de palco na propaganda do Omo

Em dias de chuva a gente acordava tarde. Em dias de chuva a gente tomava leite debaixo de cobertor. Em dias de chuva a gente enrolava pra ir pra escola. Em dias de chuva a gente ficava mais carinhoso. Em dias de chuva a gente se protegia. Em dias de chuva a gente aprendia a amar. Em dias de chuva a gente virava gente grande. Em dias de chuva a gente rezava pro Papai do Céu com mais fé. Em dias de chuva a gente vivia com mais intensidade. Em dias de chuva a gente ia comer bolinho de chuva na casa da “vózinha”.

Ser adulto em dia de chuva não tem tanta graça. Com a rara exceção daquele domingo a tarde, chuvoso, que você está bem acompanhado - com direito a pipoca e filme água-com-açúcar - a chuva no mundo dos adultos é sinônimo de desesperança. É sinônimo de tristeza. É sinônimo de blasfêmia.

Em dias de chuva a gente acorda cedo e tem que levantar. Em dias de chuva a gente trabalha. Em dias de chuva a gente se estressa com o trânsito que fica violento. Em dias de chuva a gente não reza, a gente xinga! Em dias de chuva a gente odeia. Em dias de chuva a gente vive com vontade de morrer platonicamente. Em dias de chuva a gente briga com o melhor amigo. Em dias de chuva a gente come aquela bolacha murcha que estava aposentando no fundo da gaveta do escritório.

Tic, tic, tic. Ping. Ping. Ping. Tac, tac, tac. Ping. Ploft. Bum

E a chuva intemperizou meu coração poeta. E a chuva desconfigurou minha alma menina. E a chuva apodreceu o bolinho de chuva da minha avó!


segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Paixão póstuma em ascensão


Aproveitando que a inspiração mórbida está a cem por hora! Mais uma poesia para meu mundo sem rimas


Paixão póstuma em ascensão - Por Ana Mohan (setembro de 2013)





"Eu queria me perder no seu sorriso

Mergulhar de cabeça no profundo dos teus olhos famintos

Olhos que mudam de cor

E ocultam uma alma sombria de menino que perdeu a própria fé



Eu queria me deitar sobre seu dorso

Enxugar suas lágrimas de agonia

Lágrimas secas na longevidade da dor que transparece sob teu sorriso ensaiado

Meu menino, meu amante, meu inteiro, nosso!



Eu queria te contar que perdi o controle dessa estranha paixão

Da minha razão que não deveria estar apaixonada

Eu queria me render trezentos por cento

E oferecer meu coração remendado em troca do seu coração despedaçado



Eu tenho medo, meu menino

Eu estou apavorada, meu amante

Em face do abrigo de seu corpo quente após uma tarde de carícias

Eu me enxergo uma platônica amante sedenta por um sentimento que jamais ganhará vida



Então eu morro aos poucos

Por esse drama ridículo em ser poeta que não vive por completo

Então eu mato aos poucos

Por esse desejo sufocante em ter meu mundo em seu pensamento



Eu queria me perder no seu sorriso

Eu queria te contar que perdi o controle dessa estranha paixão

-Eu tenho medo, meu menino, estou morta de medo!-

Eu morri, meu menino, afinal."